A política monetária do Banco Central, que mantém os juros elevados, está forçando os brasileiros a reduzir o consumo de alimentos para controlar a inflação. Essa é a avaliação da diretora-técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Adriana Marcolino. Em entrevista ao Jornal da CUT, ela criticou a abordagem do Banco Central, presidido por Roberto Campos Neto, de manter a taxa Selic em altos patamares nos últimos dois anos.
Adriana explicou que, embora uma das formas de conter a inflação seja frear o consumo, o grupo que mais pressiona a inflação atualmente é o da alimentação. “O ‘remédio’ para controlar a inflação é manter os juros altos, o que implica em menos consumo de alimentos para que os preços baixem”, disse a economista.
Medidas Alternativas para Controle de Preços
A diretora do Dieese sugere que medidas mais adequadas para controlar os preços dos alimentos sem impactar os consumidores incluem a utilização dos estoques reguladores. A proposta é que o governo compre parte da produção da agricultura familiar durante a safra e ofereça ao mercado quando os preços subirem excessivamente. Essa prática, anteriormente implementada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) durante os governos de Lula e Dilma, foi descontinuada nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, resultando na ausência de regulação dos preços pelos varejistas.
Adriana destacou que essa medida é justa e eficaz para manter os preços controlados e garantir a segurança alimentar. Outra solução seria promover uma relação direta entre produtores e consumidores, eliminando intermediários que aumentam os preços.
Impactos Econômicos e Sociais
A elevação da taxa de juros para conter a inflação foi uma prática adotada globalmente durante a pandemia, mas o Brasil aumentou suas taxas de forma mais acentuada. Mesmo com a melhora nos indicadores econômicos em 2023, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a taxa de juros permanece alta, atualmente em 10,5%. Adriana argumenta que essa taxa impede o crescimento pleno do país e critica a decisão do presidente do Banco Central de manter os juros elevados, alegando riscos fiscais.
Ela também enfatiza a relação entre juros altos e a meta fiscal do governo, explicando que a alta taxa reduz o consumo e os investimentos, impactando negativamente a arrecadação de impostos e, consequentemente, a capacidade do país de alcançar suas metas fiscais.
Mobilização Social
Diante dessa situação, a CUT e outras centrais sindicais estão organizando manifestações contra a alta da taxa Selic. Os atos estão marcados para hoje (30), em Brasília, São Paulo e outras cidades com representações do Banco Central, em um esforço para pressionar por uma redução dos juros e melhores condições para os trabalhadores.
A abordagem do Banco Central de manter os juros elevados é vista como uma sabotagem contra os trabalhadores e o desenvolvimento econômico do país, segundo Adriana Marcolino, reforçando a necessidade de uma revisão dessa política monetária.